terça-feira, 27 de setembro de 2011


O movimento que transforma 

Talvez seja por conta dos textos que eu tenho lido ultimamente, mas o fato é que tenho me colocado a pensar sobre este momento tão especial quando nos encontramos com a leitura e, por que não, também com a escrita. O quanto é terapêutico, para mim, esses processos e as capacidades que eles têm de pôr para refletir, organizar e transformar. Tudo passa a ter mais sentido, saltam-se mais as cores, quando vivenciados desta forma. Só assim coloco ordem em meus sentimentos, observo melhor as minhas atitudes e posso responder à vida de forma mais clara. 

Escrever me leva para dentro e ler me faz emergir e relacionar com o que vai fora. Mas em ambos os casos, quando termino, não sou mais a mesma. Sinto-me viva, indo no curso deste movimento. Já dizia Pietro Ubaldi: "Ser jamais significa estase, mas eterna transformação"

Contudo o mais importante, talvez, seja o movimento em si desta relação que se faz com o que se lê ou se escreve e não com o que está escrito realmente. Este, quase imperceptível, devir, quando nos encontramos com o 'eu' que, atento, observa a transformação. É o mergulhar no instante em que se vive. É terapêutico, justamente, por isso, por nos manter ali no limiar entre a realidade e a ilusão da vida, sentindo o fluxo, estando presentes. 


quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Ao meu lar: a escrita

Serei eu capaz de escrever sobre o escrever? Não sei! Porém me sinto digna de relatar meu amor pela escrita. As palavras são fonte de estímulo, mais do que compreensivas, fiéis, as amigas mais verdadeiras.

A qualquer momento, basta unir as letras, deixar fluir os pensamentos e eis que surgem as magnânimas palavras. Escrever é algo que transcende o fator cultural e educacional, é uma espécie de purificação, um divã disposto a te receber, sem questionamentos, imposições ou condenações.

Na escrita o mundo é meu! As escolhas são minhas, quem morre...quem vive. Eu me encontro no encontro das letras, me conheço no encontro das palavras e reflito no encontro da minha mente com a leitura.

Me perco entre vocábulos, verbos, adjetivos, advérbios... Uma perdição tamanha e arrebatadora que não me permite volta, minha alma partiu com o sibilar das letras, elas me chamam, não posso resistir.

Para minhas frases, frutos de uma mente as vezes confusa e melancólica, eu não sou estranha, elas apenas me abraçam forte, e me carregam no colo, dizendo baixinho: - Está tudo bem, não chore. E eu sei que está, elas estão comigo!

Se pessoas fossem como palavras, o mundo seria justo, puro e mágico, pois mesmo as palavras mais duras se mostram apenas como são, sem máscaras e contradições.

Ao verbo que maldiz, mostro o adjetivo que ama.

Ao substantivo que chora, dou o advérbio do tempo.

À interjeição da dor, dou a exclamação do sorriso.

À você, caro amigo, apresento tudo, apresento as palavras.

Escrever é mais que uma arte, é um rumor de vida, que cresce e se transforma em um grito de liberdade e expressão. É mórbido, mas as lágrimas me inspiram, uma gota, tanto interna como externa, rende uma palavra, mas isso não é algo desagradável, pelo contrário, é o alento que não encontro tão facilmente, e que procuro nas linhas da vida, é o esconderijo dos meus sentimentos, é onde sou inatingível, onde ninguém é capaz de me machucar, é onde estou só, porém muito bem acompanhada.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011


Uma terapia escrita

"Escrever me dá a sensação de que eu vivo intensamente..."
[Caio F. Abreu]


Sinceramente, não consigo mais imaginar minha vida sem o Caixa Preta. E quando digo sem o blog, quero dizer também, sem escrever. Não me considero uma escritora, talvez por hobby, apenas. Só me atrevo a escrever no blog e, no máximo, algumas palavras soltas por aí.

Escrever, para mim, é algo que vai além de só colocar palavras em um bloco de notas. Escrever é colocar a alma para fora, intensificar vivências ou criar novas possibilidades. Quando escrevo, transcendo. Cada palavra sai com alegria e sofrimento, porque escrever não é só felicidade. Muitos dizem isso e eu concordo, as palavras exigem de nós uma relação de amor e ódio. Elas brincam de correr facilmente, fluir e em outros momentos se escondem, fazem greve.

Escrevo por uma necessidade maior. Torno reais os meus delírios, expresso meus dramas e até elaboro algumas questões que nem sequer havia percebido.  Porém, às vezes também tenho medo de escrever, tento evitar. Escrever liberta demônios. Cansa. É um estado que beira à loucura, de tão intenso. Escrever é uma terapia, digo.

Às vezes, mesmo quando não torno visíveis as minhas palavras, escrevo mentalmente. Acredito que também escrevemos por dentro. Para mim, escrever nos torna mais vivos, nos mantém naquela zona onde tudo é permitido apesar de. Por uma necessidade assim, de me sentir viva, talvez, escrevo e propago a ideia, vamos tornar esse mundo mais vivo.



domingo, 18 de setembro de 2011

Eternizar

O tempo não mostra muitas explicações, apenas passa ignorando a saudade, ou qualquer possibilidade de repetições; já dizia um grande letrista musical cristão em uma de suas grandes músicas: "Este momento vai passar, como as notas se perdem no ar, como as nuvens que passam no ar". Somos seres finitos, presos aos momentos dessa vida, onde nada é certo, em que tudo se passa, deixando no máximo um tanto de saudade, e a fé é o único resguardo e alento.
Sou um apreciador de coisas antigas, e provavelmente tu irás se identificar com o que te digo agora. Em meu quarto existe um cantinho especial, onde guardo minhas recordações dentro de algumas caixinhas, nelas estão fotos, bilhetinhos, adesivos, camisetas, laçinhos, guardanapos de papel com beijos desenhados por lábios e batom suave. Ali estão meus amigos, meus amores, minhas saudades, tudo registrado, congelado, dentro do tempo em que escolhi e fiquei expresso em atitudes de amor e carinho.
Escrever é como coisas assim, mas as fotos, elas expressam melhor o que sinto ao escrever-me em algum lugar. Sabe aqueles retratos que por muito tempo estão guardados lá na caixinha, já estão amarelados, mas continuam intactos e nos remetem ao passado que um tanto distante ficou?  Então, escrever é também eternizar esses momentos distantes, gravar amor em papel, ou qualquer outro sentimento que lhe é solicitado por seus desejos, assim como uma foto. Escrever é marcar época, aquela que tu nunca mais irás esquecer, pois está registrado pelos seus dedos, pelas letras que formaram lindas, feias, singelas e extraordinárias palavras, mostrando que mesmo em um lugar aonde "o momento se vai, as notas se perdem e as nuvens se vão no ar", ainda podemos usar a impressão de letras em lugares visíveis e invisíveis, para que seja para sempre.
Que Deus permita que eu passe por esta vida e fique marcado, e acho que já escolhi o escrever para que isso aconteça, talvez fique marcado na memória de alguém, e mesmo se não ficar, que ele fique num pedaço de papel, afinal, ele aceitou receber o que escrevo, sem nem reclamar. Parafraseando: "escrever é uma arte, escrever sobre escrever é uma obra prima, eternizar o que se escreve, é meu sonho."

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Distraída, me perco de mim, da vida, me esqueço. Por isso que trago na bolsa as palavras que encontro no chão, me leio, me relembro. Brinco de alcançar o céu. Escalo letras, trago estrelas nas mãos e saio tocando poesia no dia. Essa intensidade faz parte de mim desde muito tempo. Minhas alegrias saltantes, ligeiras, ecoam vibrações de risos altos no bairro aqui de casa. Meus amores transbordam nos gestos, despencam dos ombros. As vezes o tempo aqui fica escuro e o mar que trago nos olhos escorre salgado na boca, inunda. Tem dias que nublo. E é no papel que pinto a chuva de mim. Pinto minhas ausências, minhas urgências, vazios. Quando amo coloco delicadezas na ponta do lápis e saio rabiscando ternura. Minha escrevência é o querer simples que tenho, meu sumo. Meu desejo de ser eterno, o cheirinho de talco da alma. Eu crua, sem enfeite nem segredos. As palavras são o meu avesso, o eu travesso. Escrevendo me esvazio, me espalho, me faço."

Natália Rocha (@nataliarochha)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Arte é necessidade 

Eu não consigo viver sem escrever. Vou logo dizendo que escrever não é apenas uma arte. Escrever é uma arte necessária, e não luxo. Ao me deparar com um papel em branco, penso: "Eu posso, eu quero e preciso escrever!". Quando nós escritores sentimos sedentos e nostálgicos, voltar à vida reside em escrever. Escrever me rejuvenesce, me faz concretizar sonhos lindos, ainda que na mente e não no mundo. Escrever me liberta, destranca, arranja, inventa, constrói, humaniza, cura. Eu posso ser o que eu quiser ao escrever. Posso ter tudo o que eu quiser e morar onde eu quiser também. Posso fazer chover se o céu está azulado, posso voar com as águias do céu, posso chorar sem ser julgada, posso morar em Paris, posso ressuscitar Jacques Brel e cantar com ele. Eu posso! Escrever me dá o privilégio de sonhar e realizar meus sonhos. Fico triste quando vejo alguém cabisbaixo por não conseguir escrever. Apesar de tudo, corra! Sem demora, apanhe logo a caneta. Comece a escrever qualquer coisa que seja. Pare de resmungar e escreva. Tranque-se num quarto ou sente-se em meio a um belo jardim e exerça sua arte. Mexa-se. Vá em frente.
                                                                                               
Natalia Campos (@ncamposalves)
 

sábado, 6 de agosto de 2011

Esta tarde não era diferente das outras, só mais uma de Pedro com seu avô, Geraldo. Algumas daquelas que se tornam apenas lembranças.
- Mas Vô, por que escreve tanto?
- Ah Pedro, escrever é libertar-se.
- Mas libertar-se do que Vô?
- Pedro, dentro de nós existem várias pessoas, e às vezes precisamos matá-las ou contê-las para não tomarmos certas atitudes.
- Quais atitudes Vô?
- Atitude qualquer que não seja racional, principalmente. Escrever é emocionar-se para si. É realizar em mente a atitude desejada, mas que não deve ser feita. É falar o que nunca falou. É contar uma história com seu ponto de vista. Mas você é muito novo, meu neto.
- Novo que nada, já entendo essas paradas aí, são legais pra caramba.
- Então por que não tenta?
- Ah não, Vô. Já escrevo pra escola.
- Então agora escreva para si. Qualquer coisa que queira desabafar, ninguém vai ler, só você.
- Vô, fica para uma próxima, estou com a cabeça muito cheia.
- Mais um motivo, mas você quem sabe. Sei que não gosta dessas coisas, mas deveria experimentar novas ondas, tá ligado?
Risos surgiram por ali, da parte dos dois.
- Não é assim que se fala. Mas, tô ligado Vô.

2 dias depois

Pedro tem a pior notícia que poderia esperar: Não havia passado no vestibular. Seu nome não estava na lista de aprovados.
Ficou paralisado por alguns longos minutos, logo escorreu a primeira lágrima, e como se tudo aquilo fosse a gota d'água de seus problemas, começou a chutar, estraçalhar as coisas, objetos quebravam, voavam. Seu quarto havia se tornado um campo de batalha contra si mesmo.
Não sabia o que fazer agora. Sua vida tinha acabado naquele instante. Já havia perdido os  pais poucas semanas antes em um acidente, não teria com quem contar. Gostava de seus avós,  mas para ele isso seria uma humilhação, a qual desejaria nunca passar.
Pensamentos grotescos, frios, de desgosto, raiva, começaram a passar em sua cabeça, um ódio de si, sentia-se incapaz. Não podia acreditar que tudo isso estava acontecendo. Caminhava de um lado para o outro do quarto, ecoavam-se os gritos. Gritos de um garoto que não aguentava mais reter, guardar, segurar tantas emoções, frustrações, perdas, sentimentos sem começo. Um pensamento vago e único que às vezes, não, muitas vezes, perturba a cabeça de pessoas que tem medo de viver mas tem coragem de matar-se.
Suicídio. Bastou alguns segundos com esta ideia  e já parecia decidido. Seria isso e acabaria com tudo. Como faria? Pulando do prédio de 14 andares que morava? Cortando-se? Não tinha ideia. Isso resolveria? Talvez, ao menos não teria que suportar tantos outros acontecimentos que estariam por vir como o de, humilhação, negação da menina que pedira em namoro, perder mais pessoas, não seria capaz de acordar com tantas outras frustrações que estaria sujeito a enfrentar.
Lembrou-se do dito: "Escrever é libertar-se, é matar alguém dentro de si". Resolveu tentar. Não estava paciente o suficiente e mal podia segurar um lápis. Rangia de raiva. Não havia solução.
Sentou-se na cadeira e ficou a olhar para o papel em branco enquanto lágrimas escorriam pelo rosto. Resolveu perguntar ao avô porque não conseguia escrever, mas não havia ninguém no apartamento. Mandou uma mensagem, já que não queria que o Vô escutasse sua voz de choro pelo telefone.
"Por que fico pensando mas não consigo escrever nada?" mensagem enviada apareceu em seu celular.
Nova mensagem: "É que tem que encontrar algo dentro de si."
"O que?"
"Só irá saber quando encontrar, enquanto isso seus pensamentos vão jorrando tudo que pode, como chuva quando cai. Escrever precisa de concentração, precisa ser natural, pessoal, real, mesmo que seja só para você. Não é um exercício fácil"
Leu rapidamente. Continuava pensando e a olhar para o papel. Não sabia o que procurar, por onde começar, enquanto isso aprendia a expor ideias, escolher melhores pensamentos, buscar textos já lidos, mesmo que fossem poucos. Começou. Uma palavra, duas, três, quatro e em poucos minutos já tinha um parágrafo. Escrevia coisas tristes mas mostrava um sorriso na face, sabia que estava conseguindo fazer a tal terapia do avô. Não perdeu o foco. Foram ali mais de três páginas, em mais ou menos duas horas e meia, estava aliviado porém já com as mãos doendo.
Levantou-se e sorria. Nem parecia ser o mesmo garoto que destruira o quarto de raiva. Estava aliviado, sentia-se leve, aquelas palavras tiraram dele o peso de tudo que carregara até o instante.
Começou a escrever todos os dias, adorava perder-se entre as letras e palavras para re-encontrar-se nas frases e nos textos. Pouco sabia que estava a tornar-se um dos grandes escritores, e aquele seria seu primeiro livro.

Vick B. (@vickthatsme)
Escrever é um ato que arranca as palavras do pensamento, moldando-os. É, numa metáfora sublime, como um desabrochar de uma flor. Como se os pensamentos fossem botões de flores – lindas ou não, depende muito da natureza do pensamento. Porque nem todo pensamento é Rosa. Alguns são erva daninha. – e escrever fosse deixar o pensamento desabrochar e mostrar tudo que escondia para si.
É uma conversa interior-exterior. É quando minha casca conversa com as minhas entranhas. É quando minha alma quer deixar claro tudo que a fere, tudo que a vicia, tudo que ela precisa que eu veja.
É quase como se olhar no espelho, mas não se vê pele, não se vê carne. Você vê a si mesmo de dentro para fora. Não vísceras, não veias, não sangue. Você se vê como alguém que sente, que quer, que sofre, que precisa. É refletir tudo que está escondido dentro dos pensamentos e das lembranças... Como uma saída para não deixar que as lembranças te sufoquem e te dilacerem por dentro. Você as põe para fora e as guarda. Não esquece, apenas guarda. – Num pedaço de papel e dentro do fundo da memória, onde pode dar uma olhada uma vez ou outra e sentir saudade.
Escrever é simplesmente uma forma de compartilhar com uma folha em branco tudo que não pode ser falado. Escrever para mim é tão necessário quanto qualquer-ato-cotidiano-vital, porque sem isso toda dor seria acumulada. Todo peso seria carregado por completo. Toda idéia continuaria botão-de-flor; e é no silêncio da escrita que habita a paz do autoconhecimento.

Paula F. (@dearcliche)